terça-feira, 27 de setembro de 2016

Café Filosófico


o paciente psiquiátrico e seus lugares na cena contemporânea, com alfredo simonetti (versão completa)



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“foucault fala sobre o ‘louco’ na idade média, que era assimilado, mas não valorizado. ele dava o que o cidadão comum não podia: ele podia falar o que quisesse. temos, assim, no imaginário que o louco é mais ‘criativo’ que as pessoas normais, mas não há correlação. há loucos criativos e loucos nada criativos. e há pessoas criativas que enlouqueceram e pessoas criativas que nunca enlouqueceram. a literatura, o cinema e a arte criaram estigmas do louco violento e a ideia de que o louco é mais criativo”, disse o psiquiatra e psicanalista alfredo simonetti no café filosófico cpfl de sexta-feira, 23/09 sobre “o paciente psiquiátrico e seus lugares na cena contemporânea”.
“eu posso ser uma pessoa estranha, esquisita, ter interesses assim ou assado, mas já vi loucos sofrerem muito. por respeito à angustia que enxergo neles, não posso dizer que sou louco. isso é um desrespeito para com os loucos de verdade. a angustia deles é dilacerante. podemos ser diferentes ou esquisitos, mas isso é loucura glamourizada. eles não desfrutam da loucura como a gente desfruta do nosso lado esquisito. o meu lado ‘louco’ me leva a curtir a vida intensamente. o lado deles os esconde da vida”


segunda-feira, 4 de julho de 2016

Avaliação Neuropsicológica

AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA E A ANÁLISE APLICADA DO COMPORTAMENTO

O que é a avaliação neuropsicológica?
A avaliação neuropsicológica é um estudo completo das funções cognitivase comportamentais do indivíduo. Através dos resultados, verificaremos quais são as áreas que estão preservadas, prejudicadas, inexistentes ou as existentes e que necessitam serem mais desenvolvidas, associadas ao que podem acarretar no comportamento do ser humano. Na visão de Muszkat (2010), a neuropsicologia busca compreender a relação entre o comportamento e as bases neurobiológicas, assim como, o efeito de lesões cerebrais no funcionamento cognitivo.

Público Alvo
A avaliação neuropsicológica é destinados a crianças, adolescentes e idosos

Como é feita a avaliação neuropsicológica?
É feita através de instrumentos padronizados (testes psicométricos, escalas, observações, relatos de profissionais e pessoas que cercam a pessoa).

Que profissional está apto a fazer a avaliação neuropsicológica?
Apenas os psicólogos

O que avalia?
As funções cognitivas, entre elas, atenção, memória, percepção, linguagem, aspectos da personalidade, viso construção, quoficiente de inteligência (verbal e execução), percepção, velocidade de processamento, aprendizagem, habilidades motoras, funções executivas, abstração e raciocínio. Além disso, são observados e analisados aspectos da cognição social.

A partir dos resultados
Após o término da avaliação neuropsicológica e da correção dos instrumentos utilizados será entregue um relatório na sessão da devolutiva. Esse relatório envolve a conclusão da avaliação, ou seja, todas as informações que foram investigadas e obtidas no processo de avaliação neuropsicológica e o que elas acarretam no dia a dia do indivíduo, auxiliando em um possível diagnóstico e no tratamento de diversas doenças neurológicas, problemas relacionados ao desenvolvimento infantil, problemas psiquiátricos, alterações de conduta, entre outros. Segundo, Costa, Português, Azambuja e Costa (2004) afirmam que a neuropsicologia infantil tornou-se essencial para as consultas periódicas da saúde infantil para obter uma identificação precoce das alterações nos aspectos cognitivos e comportamentais da criança, principalmente em distúrbios de desenvolvimento e aprendizagem, sendo necessária assim a presença dos testes neuropsicológicos e escalas para avaliação do desenvolvimento.
O que é a analise aplicada do comportamento?
A Análise Aplicada do Comportamento (Applied Behavior Analysis) é uma abordagem científica criada para observar e analisar a função do comportamento. O comportamento é a relação entre o organismo e o ambiente. Na avaliação comportamental utiliza-se a análise funcional do comportamento, ou seja, identifica-se a função do comportamento e o que o mantem. De acordo com Meyer (1997), a análise funcional é um instrumento utilizado na avaliação comportamental que identifica as contingencias que estão operando e inferem quais as que operaram no passado. Assim como, cria e estabelece relação de contingência para aprimorar ou instalar comportamentos novos, diminuir, enfraquecer ou eliminar comportamentos do repertório dos indivíduos.

O que avalia?
A análise aplicada do comportamento é a ferramenta essencial para saber o que mantem, motiva ou aumenta a probabilidade do comportamento acontecer. Para realizar a análise funcional do comportamento-alvo é necessário utilizar a tríplice contingência: Estímulo antecedente (o que aconteceu imediatamente antes do comportamento), Resposta (comportamento) e Consequência (o que aconteceu imediatamente após o comportamento).

Público Alvo
Não há restrição para o público alvo, porém a comprovação de melhoras em crianças do espectro do autismo.

Como é feita a análise aplicada do comportamento
A análise aplicada do comportamento é feita através do uso de esquemas de reforçamento para ensinar as habilidades. Seja o ensino por tentativas discretas, ensino incidental (generalização) e ensino de linguagem (comportamento verbal).

Que profissional está apto a fazer a análise do comportamento?
Pais e profissionais das crianças indicadas para a terapia comportamental

A partir dos resultados?
Após os resultados da análise aplicada do comportamento, será estabelecido um PEI (Programa de Ensino Individualizado), onde se instala aumentar, diminuir ou enfraquecer e eliminar comportamentos no repertório do indivíduo. Isso é feito através de treinos de programas. Normalmente os repertórios de comunicação do indivíduo envolvem o mando, tato, ecóico, comportamento de ouvinte, brincar independente, imitação motora, habilidade e percepção visual, intraverbal, rotina de classe, atividades em grupo, escrita, leitura e matemática e estrutura linguística. A aprendizagem de repertórios é feita através da aprendizagem sem erro, garantindo que o indivíduo acerte sempre a resposta, diminuindo assim, a fuga da demanda. São utilizadas dicas no ensino, que podem ser verbais, gestuais, físicas e por modelação (mostrar à criança como fazer tal coisa). É necessária também a utilização da hierarquia de dicas, ou seja, planejar o ensino inicial com dicas mais intrusivas e as retirando gradualmente. Para saber se o treino foi eficaz, a criança precisa ser capaz de generalizar os comportamentos e saber emiti-los em diversos contextos.

Conclusão

As pessoas acreditam que tanto a avaliação neuropsicológica como a análise aplicada do comportamento caminham separadas, porém isso é um grande equívoco. Muitas vezes a avaliação neuropsicológica é feita e se tem um diagnóstico, por exemplo, de autismo. A avaliação por si só não quer dizer nada aos pais, que estão aflitos a procura de uma resposta, ou melhor, o que fazer com a resposta (diagnóstico). Enquanto a avaliação neuropsicológica colhe dados para ajudar no diagnóstico, buscando a relação entre o cérebro e o comportamento, a avaliação comportamental analisa variáveis independentes (condições externas das quais o comportamento é função) e as variáveis dependentes (as respostas ou classes de respostas que são observadas) que estão envolvidas na ocorrência e manutenção do comportamento problema, selecionando assim o procedimento adequado a ser seguido, que poderá ser modificado ou alterado de acordo com a resposta dada pela criança. Com isso, fica mais fácil elaborar um currículo de habilidades a serem treinadas. Pontes e Hubner (2007) ainda ressaltam que tanto a avaliação comportamental como a neuropsicológica, tem um proposito semelhante que seria a preocupação de ambos em compreender o comportamento humano. Os dois testes se complementam, mas não são substituíveis. A avaliação neuropsicológica compreende os problemas cognitivos, porém não consegue avaliar como o paciente e a sua família são afetados com esses problemas e como enfrentar essas situações no dia a dia e os ganhos na vida real. Nesse sentido a avaliação comportamental soluciona os problemas. Portanto, a principal característica que ambas tem é  se preocupar  em compreender o comportamento humano e auxiliar o indivíduo a conseguir maior autonomia e melhorar a qualidade de vida.


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Claudia Feller
Psicóloga Neuropsicologa e Analista do Comportamento

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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Obesidade



A obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública da sociedade moderna, acometendo quase um terço da população mundial. É considerada uma doença crônica e se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura corporal.
A organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a gravidade dos casos de obesidade conforme o índice de massa corporal (IMC) e o risco de mortalidade apresentada. Esse índice é calculado dividindo-se o peso da pessoa em kilogramas (kg) pela sua altura em metros elevada ao quadrado (quadrado da sua altura). O valor obtido estabelece o diagnóstico da obesidade e caracteriza os riscos associados, como descrito na tabela abaixo:
IMC (kg/m2)Grau de RiscoTipo de obesidade
18 a 24,9
Peso saudável
Ausente
25 a 29,9
Moderado
Sobrepeso (Pré-Obesidade)
30 a 34,9
Alto
Obesidade Grau I
35 a 39,9
Muito Alto
Obesidade Grau II
40 ou mais
Extremo
Obesidade Grau III (“Mórbida”)

O aumento do IMC trata-se de um fenômeno multifatorial, pois envolve componentes genéticos, metabólicos, comportamentais e psicológicos.
O fator social também é crucial, pois a sociedade atual estimula hábitos que colaboram para o crescimento da obesidade. O rítimo de vida da população que se caracteriza por situações estressantes, falta de tempo para uma alimentação saudável e escassez de atividades físicas favorece o aumento de peso. Nossa cultura tem por hábito a ingestão excessiva de alimentos como balas, bolachas, salgadinhos e chocolates entre as refeições, o que agrava ainda mais a questão.
A indústria alimentícia que surge para suprir a necessidade social de acesso fácil a pratos rápidos e calóricos acaba colaborando para a proliferação de pessoas com excesso de peso. Além disso, excesso de horas de trabalho diminui o tempo para atividades esportivas e de lazer. Desta forma, o sedentarismo, o estresse, e a alimentação incorreta são alguns fatores responsáveis pelo crescimento da obesidade em nosso país.
Os altos índices de crescimento da obesidade se contrapõem aos padrões estéticos impostos como modelos. Na nossa cultura a magreza é vista como padrão de beleza, gerando dificuldades sociais para pessoas obesas, que acabam sofrendo discriminação e exclusão social.
Apesar da questão estética acarretar problemas na adaptação social, a obesidade está muito além dessa esfera. Pessoas obesas estão mais predispostas a serem acometidas por outras doenças e distúrbios, como hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, doenças cérebro vasculares, diabetes, câncer, osteoartrite, entre outras.
São também sintomas comuns aos obesos o cansaço, a sudorese excessiva, (principalmente nos pés, mãos e axilas) e as dores nas pernas e na coluna. Além disso, possivelmente pela supervalorização cultural da estética e conseqüente rejeição social sofrida pelo obeso, com freqüência essas pessoas entram em estado de depressão.
Frente a essas colocações, pacientes com obesidade, sobretudo aqueles com a de grau II, devem ser encarados como portadores de uma doença séria, que ameaça a vida, reduz sua qualidade e diminui a auto-estima.
O tratamento dessa condição médica envolve uma reeducação nutricional, o uso de medicamentos antiobesidade e a prática de exercícios físicos. Entretanto, muitos pacientes com índices de massa corpórea acima de 40 Kg/m2 não respondem a essas práticas terapêuticas e recuperam o peso perdido. Deparando-se com essas dificuldades, a cirurgia bariátrica é considerada uma alternativa para auxiliar nesses casos.
A cirurgia bariátrica é o único método cientificamente comprovado que promove uma acentuada e duradoura perda de peso, reduzindo as taxas de mortalidade e resolvendo, ou pelo menos minimizando, uma série de doenças associadas à obesidade grave.
É indicada para pacientes com IMC acima de 40 Kg/m2 ou com IMC maior que 35 Kg/m2 associada a outras doenças como hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes, apnéia do sono, etc. Sendo contra-indicada a pessoas com pneumopatias graves, insuficiência renal, lesão no miocárdio e cirrose hepática.
As cirurgias bariátricas podem promover a perda de peso por duas maneiras: pela redução da capacidade de armazenamento do estômago e de sua velocidade de esvaziamento (cirurgias restritas), ou pela exclusão de grandes segmentos do intestino delgado evitando que os nutrientes sejam absorvidos (cirurgias disabsortivas).
Dentre as cirurgias bariátricas, as mais comuns são:
Gastropastia vertical com bandagem: cirurgia restritiva que consiste no fechamento de uma porção do estômago através de uma sutura, formando um compartimento fechado. É colocado um anel de contenção que favorece um esvaziamento mais lento desse “pequeno estômago”. Esse tipo de intervenção cirúrgica promove uma redução média de 30% do peso total nos primeiros anos, entretanto, observa-se que após aproximadamente dez anos a perda de peso tende a cair para menos de 20%. Isto decorre principalmente de fatores comportamentais apresentados pelos pacientes, que abandonaram a dieta e passam a ingerir líquidos hipercalóricos como milk shake e leite condensado.
Cirurgia de Capella: Reduz o volume do estômago e sua velocidade de esvaziamento pela colocação de um anel de contenção e por sua conexão com uma alça intestinal. O estômago é dividido e emendado diretamente com o intestino delgado o que favorece a absorção de boa parte do alimento pelo intestino antes de passar pelo processo digestivo. Um dos efeitos colaterais mais comum é chamada síndrome de dumping que se caracteriza por acentuado mal estar (náuseas, vômitos, rubor, dor epigástrica e sintomas de hipoglicemia) ao ingerir doces. Entretanto, salienta-se que a própria reação para evitar esses sintomas favorece a perda de peso que neste tipo de cirurgia é de aproximadamente 35% do peso corpóreo a longo prazo.
Apesar das opções expostas acima, não existe a cirurgia absolutamente perfeita que se encaixe em todos os casos; cada técnica possui vantagens e desvantagens que devem ser analisadas em cada paciente de acordo com suas expectativas e prioridades, observando-se suas características pessoais como idade, sexo, raça, grau de obesidade, hábitos alimentares, nível sócio-cultural e perfil psicológico-comportamental.
Em todos os casos a avaliação psiquiátrica e/ou psicológica no período pré-operatório é crucial para averiguar a presença de transtornos mentais atuais e pré-existentes e no período pós-operatório para acompanhamento da evolução clínica, visto que a adaptação aos novos hábitos alimentares requer um preparo emocional específico.
Esse acompanhamento terna-se ainda mais relevante quando observa-se um aumento de psicopatologias, sobretudo transtornos de humor (como depressão), transtornos alimentares (anorexia nervosa e compulsão alimentar) e dependência de álcool ou drogas em pacientes com obesidade mórbida que procuram tratamento para emagrecer.
Essas condições psiquiátricas requerem tratamentos especializados e suporte adequado, pois podem conduzir a morte neste período de readaptação, principalmente por suicídio e abuso de álcool.
Assim, apesar da cirurgia de obesidade ser uma alternativa para a melhora da qualidade de vida dos pacientes e para a diminuição de doenças correlacionadas a esse quadro clínico, é de suma importância um acompanhamento psiquiátrico e psicológico criterioso para a redução de complicações pós-operatórias.

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